A Madeira do Som, O Som da Madeira
Seminário

Neste seminário dedicado à Música, convidamos 6 oradores a partilhar o seu trabalho em torno dos instrumentos de madeira.

Será dividido em dois momentos:

A Madeira do Som – dedicado às técnicas de construção de instrumentos de madeira;

O Som da Madeira – dedicado à recolha e ao registo da música tradicional.

São duas conversas entre luthiers, etnomusicólogos e responsáveis por projectos de recolha e registo, num seminário que queremos menos académico do que apaixonado e que apela à participação do público. 

Fica o convite para ver, ouvir e contar histórias da música.

CRISTIANO MARQUES DA COSTA

Artes em Madeira de Paredes

A história do mobiliário no concelho de Paredes está ainda por fazer.

É necessário desmistificar as origens.

Os motivos que levaram à proliferação de pequenas oficinas nas freguesias de Duas Igrejas, Lordelo, Rebordosa, Sobrosa e Vilela são ainda uma incógnita.

A industrialização permitiu um forte incremento nesta actividade económica, tornando-a dominante ao longo do século XX.

Cristiano Marques da Costa nasceu a 9 de Dezembro de 1983. Natural de Sobrosa, Paredes.

Licenciado em Engenharia Informática pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto.

Professor do Ensino Secundário e formador na área de Informática.

Com actividade profissional na área do turismo rural.

Presidente da Assembleia de Freguesia de Sobrosa, Presidente do Conselho de Administração da Obra de Assistência Social da Freguesia de Sobrosa e dirigente em várias associações locais.

Investigador na área de história local e genealogia.

ALFREDO MACHADO

A construção e a sonoridade dos instrumentos de madeira ao longo dos tempos

Antigamente, os instrumentos musicais vendiam-se nas feiras e romarias anuais. A revolução nestes instrumentos surge nos anos 80, com Júlio Pereira, que se dedica a aprender a tocar cavaquinho e braguesa.

A classe média começa então a tocar estes instrumentos e nascem inúmeros grupos de música tradicional e popular portuguesa pelo país, beneficiando os grupos folclóricos - que começam a ter melhores executantes nas suas tocatas, e elevando a exigência na construção dos instrumentos, com escalas mais certas e critério na selecção das madeiras. Os violeiros da família Machado são os primeiros a colocar barras harmónicas nos instrumentos musicais tradicionais.

Mais tarde, os músicos começam a introduzir mudanças na tradição, como por exemplo, alargando a escala, aumentando o número de trastes no instrumento, de forma a poderem executar com minúcia o seu reportório.

Alfredo Machado nasce a 30/04/1960, neto e filho de construtores de instrumentos de corda. Estuda até ao 5º ano do liceu (atual 9º ano) e em 1975 torna-se na 3ª geração de construtores da família Machado, de Braga. Vai desenvolvendo a sua actividade ao lado de seu pai, mestre Domingos Machado, até aos dias de hoje.

MANUEL TOGA

Construção em aduela e customização de instrumentos de percussão

Manuel Toga irá apresentar o seu método de construção de instrumentos de percussão - stave (aduelas) -, as suas implicações nas características sonoras dos instrumentos e o método de colagem específico desta metodologia.

Apresentará ainda o seu trabalho de customização dos instrumentos em função do timbre pretendido pelo músico, e que passa por uma escolha criteriosa das madeiras e das ferragens, bem como de uma definição precisa do ângulo de apoio das peles.

Carlos Manuel Gonçalves dos Santos Toga Machado nasceu a 22 de setembro de 1969.

Inicia a sua relação com a música aos 16 anos, com a compra da primeira viola. Integrou vários projectos musicais, tendo também trabalhado com várias bandas nacionais e internacionais como técnico de backline.

A construção de instrumentos musicais aparece na sua vida há 13 anos, quando integra a MISSOM, empresa dedicada essencialmente a instrumentos de percussão.

Tem actualmente a sua própria empresa - TOGA CUSTOM -, também dedicada à construção e à reparação de instrumentos musicais, essencialmente na área da percussão.

JOAQUIM DOMINGOS CAPELA

Análise das escalas acústicas

Joaquim Domingos Capela irá abordar temas como a evolução das escalas acústicas e a construção do violino, fazendo também referência a violinos históricos.

Joaquim Domingos de Sá Ferreira Capela nasce a 3 de Dezembro de 1934 no lugar de Guimbra (Anta, Espinho). Filho de Domingos Ferreira Capela e de Maria Sá Couto.

Constrói o seu primeiro violino aos 9 anos, na oficina de instrumentos de corda do pai.

Forma-se como Serralheiro Mecânico em 1952. Conclui o curso de Engenharia Mecânica, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1964.

É o 1º premiado no 2º Concurso Nacional de Formação Profissional e representa Portugal no 2º Concurso Internacional de Formação Profissional, em Madrid, sendo-lhe atribuído o 2º lugar.

Foi membro do 1º naipe dos primeiros violinos de várias Tunas Musicais, sendo membro fundador da Tuna da Universidade de Lourenço Marques. Tocou na Orquestra de Tangos da Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto e na Tuna dos Antigos Tunos da Universidade de Coimbra.

Leccionou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e na Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique.

Exerceu funções técnicas e direcção de empresas.

Em 1984 constrói, em homenagem ao pai, 4 instrumentos: um cavaquinho, um violão, um bandolim e uma guitarra portuguesa.

Os seus tempos livres são dedicados ao fabrico duma colecção de Instrumentos musicais e à realização de Palestras sobre “História e construção de Instrumentos de Corda”.

Doou 1 violino à Royal Academy of Music of London, 1 violino à cidade de Espinho, 1 violino (¾) gravado ao Museu da Música de Lisboa, 1 viola dedilhada ao Museu Antonio Stradivari em Cremona, Itália, 1 guitarra portuguesa modelo Coimbra ao Museu de Música de Barcelona, e oferece, em 1986, 1 guitarra Lisboa a Amália Rodrigues.

TIAGO MAGALHÃES

Cancioneiro de Paredes - Recolha de tradições

A Culturinha sai à rua... para ouvir a tradição" é um projecto da Câmara Municipal de Paredes que se dedica à recolha e divulgação da música tradicional do concelho. Tem como objectivo a elaboração do Cancioneiro de Paredes, por forma a dar a conhecer o património cultural através de hinos, canções antigas (muitas vezes associadas ao trabalho do campo, lavadouros, carreteiras, etc), lengalengas, mezinhas, jogos infantis (corda, elástico, palmas, etc).

É um projecto em constante actualização e que apela à contribuição dos cidadãos - com áudio, vídeo, texto ou outros materiais - para a preservação e perpetuação das tradições e costumes antigos.

Neste seminário, Tiago Magalhães apresenta os detalhes e curiosidades desta recolha tão particular.

https://www.cm-paredes.pt/pages/1646

Tiago André Marques de Magalhães, nasceu a 24 de julho de 1985 na freguesia de Parada de Todeia, concelho de Paredes. Desde os 11 anos que mantém contacto com a Música, tendo participado como elemento no Rancho Folclórico da Sobreira, em diversas bandas filarmónicas e bandas de garagem.

Com 17 anos de idade ingressou no ensino formal da música no Conservatório de Música de Paredes. Segue os seus estudos na Escola Superior de Educação do Porto onde finaliza a licenciatura e o mestrado em Educação Musical.

A sua atividade profissional como professor de Música num colégio fez com que se debruçasse sobre a falta de repertório tradicional no ensino, nomeadamente, na transmissão cultural junto dos mais novos. Desde 2020, concilia a docência com o desenvolvimento do Cancioneiro de Paredes através da recolha e transcrição de canções, lengalengas, mezinhas, etc., junto da população mais idosa.

JOSÉ ALBERTO SARDINHA

Recolha etnográfica em Portugal - história, documentação e metodologia. Exemplos de instrumentos musicais de madeira.

José Alberto Sardinha irá abordar temas como: o historial das recolhas etnográficas desde Almeida Garrett, tanto do cancioneiro popular, como, sobretudo, do romanceiro tradicional; o historial das recolhas musicais, tanto em partitura como em magnetofone, desde o séc. XIX até aos nossos dias; a importância das recolhas para documentação, preservação e estudo desta parcela do património cultural português; como realizar recolha etnográfica no terreno; variedade dos instrumentos musicais populares construídos em madeira: viola popular portuguesa, cavaquinho, guitarra portuguesa, rabeca, rabeca chuleira, bandolim, castanholas, reque-reque; suas características e origens.

José Alberto Sardinha é licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Como advogado, exerce a sua actividade forense desde 1975 com escritório na comarca de Torres Vedras. É investigador de música tradicional há cerca de 40 anos, dedicando-se a percorrer as aldeias de todo o país, estudando e registando em gravação as mais genuínas tradições musicais do nosso povo. Detém hoje um vasto arquivo sonoro que abrange todo o país. Efectua regularmente conferências sobre a música tradicional portuguesa por todo o país a convite da Fundação Inatel, das Câmaras Municipais e dos mais variados organismos e associações culturais e tem participado em vários congressos de etnografia e folclore. Foi coordenador do ciclo Sons da Tradição da Expo/98.

https://www.terramater.pt

JORGE CASTRO RIBEIRO

Aspectos da construção, circulação e uso de cordofones em comunidades de língua portuguesa numa perspectiva etnomusicológica.

Os cordofones, pela sua portabilidade, riqueza sonora e polivalência musical, historicamente circularam (e continuam a circular) em várias direções entre comunidades interligadas pela língua portuguesa. Também os conhecimentos sobre a sua construção e a exploração sonora, baseada nas madeiras e técnicas usadas, transportam histórias fascinantes de adaptação, adopção e recriação em diferentes comunidades. Nesta apresentação abordam-se alguns casos específicos de construção, circulação e uso de cordofones tradicionais (cavaquinho, viola, bandolim, violão), tanto do passado como do presente, que ilustram estratégias culturais significativas e vectores de afirmação identitária.

Jorge Castro Ribeiro é Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro e Investigador Integrado do INET-md (Instituto de Etnomusicologia: Centro de Estudos em Música e Dança) nas áreas de Musicologia e Etnomusicologia. Fez a Licenciatura em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa e o Doutoramento em Música (Etnomusicologia) na Universidade de Aveiro. Como etnomusicólogo vem realizando trabalho de campo extensivo em várias regiões de Portugal continental, nos arquipélagos da Madeira e Cabo Verde e no Brasil. Os seus domínios de interesse são a música como património cultural imaterial, a música em Portugal, a música cabo-verdiana, a música e a migração, os estudos pós-coloniais, a música e educação e a música no espaço lusófono. Dirigiu recentemente o projecto de investigação Atlântico Sensível (AtlaS) - Memória e mediação das práticas e dos instrumentos musicais na circulação entre comunidades interligadas com financiamento da FCT e participou em cerca de vinte projectos de investigação financiados. Tem publicações académicas a nível nacional e internacional, incluindo livros, artigos, ensaios, gravações etnográficas e dois documentários audiovisuais. Apresentou comunicações académicas em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Irlanda, Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Moçambique e África do Sul. Como musicólogo desenvolve regularmente importante actividade pública no âmbito da divulgação da música erudita em concertos para famílias, com orquestras e em salas de relevo nacional. São os casos dos projectos anuais “Música na Escola” da Orquestra Filarmonia das Beiras; os “Concertos Promenade do Coliseu do Porto”; os “Concertos Promenade da Casa das Artes” em Famalicão; os “Concertos Sinfoniónicos” em Santa Maria da Feira, entre bastantes outros. É curador da coleção de instrumentos musicais de Joaquim Domingos Capela do Museu da Universidade de Aveiro.

MARIA DO ROSÁRIO PESTANA (moderadora)

Maria do Rosário Pestana é doutorada em Etnomusicologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Professora Auxiliar na Universidade de Aveiro e integra o Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança. Desenvolve investigação de arquivo e de campo, que resultou em publicações sobre: processos de documentação e arquivo de música tradicional de transmissão oral, folclore e folclorização, música e emigração, comunidades musicais, canto em coro amador, bandas civis, música e movimentos sociais e indústrias da música. Coordenou os projeto de investigação “A música no meio: o canto em coro no contexto do orfeonismo (1880-2012)” e “A nossa música, o nosso mundo: Associações musicais, bandas filarmónicas e comunidades locais (1880-2018)”, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e coordena atualmente o projeto “Práticas sustentáveis: um estudo sobre o pós-folclorismo em Portugal no século XXI”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e o Balcão2020.

https://www.cienciavitae.pt/portal/en/4A19-58AA-FA1C

RUI MARQUES

As vidas de uma viola d'arame - uma abordagem ao instrumento musical como arquivo de saberes e memórias

No século XXI, a viola toeira (uma das violas de arame portuguesas menos documentadas, sobretudo no que respeita a técnicas performativas, repertórios e contextos de prática musical) conquistou o interesse de músicos e construtores, abrindo caminho a projetos de revivalismo. Esta comunicação decorre de um estudo de caso alicerçado na cooperação entre um etnomusicólogo e um violeiro, no contexto da sua oficina. A investigação articulou pesquisa documental e o restauro de uma viola construída em Coimbra ca. 1900. Como sustenta Sennett (2008), o estudo e restauro de instrumentos musicais históricos configura-se como uma estratégia de aprendizagem, capaz de mitigar as descontinuidades da transmissão de conhecimento que, no passado, se efetivava de mestres para aprendizes, frequentemente em contexto familiar. Em linha com os contributos de autores como Regula Qureshi (2000), Kevin Dawe (2012) e Megan Rancier (2014), perspetivamos este instrumento como um arquivo de saberes e de memórias. O estudo visou: (a) analisar as matérias-primas e técnicas construtivas empregues na manufatura desta viola e respetivos reflexos na sua sonoridade; (b) compreender a "vida social" (Bates 2012) deste instrumento, considerando a sua construção, a sua trajetória e os seus usos (Kopytoff 1986) e (c) identificar as marcas de uso gravadas nesta viola pelo(s) seu (s) tocador(es), no sentido de aprofundar o conhecimento sobre técnicas performativas. Advogamos que esta abordagem interdisciplinar ao estudo de instrumentos musicais históricos pode contribuir para informar e capacitar a ação de músicos e construtores, no século XXI.

Rui Marques é investigador do INET-md - Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança. Licenciado e mestre na área de Educação Musical pela Escola Superior de Educação do IPC, concluiu também o mestrado em Ensino de Música (especialização em Teoria e Formação Musical) no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (DeCA-UA). Em 2019 concluiu o doutoramento em Música, na área de especialização em Etnomusicologia (DeCA-UA). Lecionou em várias escolas do ensino básico, do ensino artístico especializado de música e do ensino superior. Atua como investigador no âmbito do projeto EcoMusic, em curso na UA, e colabora como docente com o Instituto Politécnico do Porto.

https://www.cienciavitae.pt//pt/BB1C-D421-0326

Com mãos se faz o som: as vidas de uma viola d'arame

[Documentário de Rui Marques e Tiago Cerveira] - ESTREIA

Resgatada do caos de objetos inertes e empoeirados de uma loja de antiguidades, uma viola de arame centenária é confiada às mãos de um violeiro. Sobre a banca de trabalho da oficina, a viola interpela o artesão a desvendar os segredos do ofício do seu criador e as marcas de uso impressas pelas mãos que a tocaram, para alcançar uma nova vida, regressando agora ao universo dos sons. Eis o ponto de partida para um documentário, em estreia no FAMP, que convida à redescoberta de matérias-primas, manualidades e sonoridades e a uma reflexão sobre a sustentabilidade de um ecossistema que interliga recursos naturais, violeiros e músicos.

Detalhes
  • Data de início
    30 de Setembro, 2022 10:00
  • Horário
    Horário

    ABERTURA
    10:00 - 10:15
    Sr. Presidente da Câmara Municipal de Paredes
    - Sra. Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Paredes, Dra. Beatriz Meireles


    10:15 - 10:30
    Artes em Madeira de Paredes
    - Cristiano Marques da Costa

    10:30 - 10:45 | Coffee break


    A MADEIRA DO SOM
    10:45 - 11:30

    A construção e a sonoridade dos instrumentos de madeira ao longo dos tempos
    - Alfredo Machado

    Construção em aduela e customização de instrumentos de percussão
    - Manuel Toga

    Análise das escalas acústicas
    - Joaquim Domingos Capela

    11:30 - 13:00 | Conversa Aberta
    - Moderador: José Alberto Sardinha

    13:00 - 14:30 | Pausa para almoço

    O SOM DA MADEIRA
    14:30 - 15:15

    Cancioneiro de Paredes - Recolha de tradições
    - Tiago Magalhães

    Recolha etnográfica em Portugal - história, documentação e metodologia. Exemplos de instrumentos musicais de madeira
    - José Alberto Sardinha

    Aspectos da construção, circulação e uso de cordofones em comunidades de língua portuguesa numa perspectiva etnomusicológica
    - Jorge Castro Ribeiro

    15:15 - 16:45 | Conversa Aberta
    - Moderadora: Maria do Rosário Pestana

    16:45 - 17:00 | Coffee break


    17:00 - 17:15

    As vidas de uma viola d'arame - uma abordagem ao instrumento musical como arquivo de saberes e memórias
    - Rui Marques

    17:15 - 17:50 | Apresentação de documentário
    Com mãos se faz o som: as vidas de uma viola d'arame, de Rui Marques e Tiago Cerveira

    17:50 - 18:20 | Documentário - Sessão de perguntas e respostas


    ENCERRAMENTO
    18:20
    - Dr. José Alexandre da Silva Almeida

  • Público Alvo
    Público Alvo

    Público em geral

  • Inscrição em: