100 anos de José Saramago por Agostinho Santos
O percurso de José Saramago (1922 – 2010) é marcado por um forte sentido do improvável, tornando-se o único Nobel da Literatura da língua portuguesa (1998) e justificando-o pela atenção à expressão popular, fazendo de certa fala “sem escola” a pedra de toque de um estilo que se impõe à arte e à academia. Saramago, cuja obra se define algo tardiamente, universaliza a questão portuguesa e prima pelo importante foco humanista que critica a contemporaneidade e suas demagogias.
A obra de Agostinho Santos (1960) tem que ver com a insubmissão e com um frontal exercício de cidadania. Interessado em cortar amarras e reencontrar a linguagem espontânea dos que obedecem apenas à sua própria natureza, é empenhado na defesa de causas essenciais para a consciência mais atenta dos nossos dias. A obra ao serviço de suas convicções coloca-o claramente na esteira do que foi sempre o gesto de Saramago. Ambos inscrevem a multidão nos seus discursos, essa dos oprimidos ou esquecidos, dos que são preteridos ou adiados.
O encontro de Agostinho com Saramago aconteceu em franco entusiasmo mas deixou o repto para que os livros sobre os quais o pintor não se debruçara viessem a merecer ainda essa interpretação. Esta exposição é uma resposta de Agostinho ao pedido que Saramago lhe fez. Prossegue a transformação dos livros em imagens, segundo a imaginação indomável de Agostinho. Modo de agora festejar os cem anos de Saramago, um mestre e um amigo comum.
Valter Hugo Mãe