Exposição
Parcerias Criativas + Luc Lavault + Oficinas de Talha e de Escultura

O Festival de Artes em Madeira de Paredes acolhe 4 parcerias criativas entre artistas e artesãos. São 4 colaborações a decorrer durante todo o festival, com o objectivo de incentivar o diálogo artístico, a partilha de técnicas e de experiências. Questionam-se as fronteiras entre artista e artesão. Os trabalhos finais estarão em exposição na Casa da Cultura de Paredes, a partir do dia 8 de Outubro.

LEONIE KOHUT | PAULO MOREIRA

WHAT IF WE’D BURNED THAT BRIDGE

Se considerarmos a madeira não só como material de construção de um caminho, de uma casa, de um instrumento, mas também como corpo sonoro, podemos começar a ouvir a profundidade do próprio material. Construindo pontes entre o dentro o fora, entre o movimento dos corpos no espaço e a reacção imediata às vibrações - a madeira é ao mesmo tempo o calor e o telhado. Só saberemos se tentarmos. Se tentarmos mover-nos, se tentarmos tactear e sentir, se tentarmos ouvir e tocar, se tentarmos construir e queimar.

A peça de Leonie Kohut e Paulo Moreira é uma instalação que aborda as diferentes utilizações da madeira e a relação entre o corpo e a vibração. É concebida para ser usada e experimentada pelo público, já que produz sons ao mesmo tempo que interage com o ambiente circundante. É um trabalho interdisciplinar, criado a partir dos diferentes pontos de vista de uma artista e de um construtor de instrumentos, mais uma vez, criando uma ponte entre as suas visões e conhecimentos.

Leonie Kohut

Leonie Kohut nasceu em Viena, Áustria. Após obter o diploma em Design dos Media Audiovisuais, estudou Arquitectura de Interiores & Design 3D na New Design University St. Pölten, Áustria. Fez depois a tese de bacharelato intitulada “Dealu Frumos. Recognizing and perceiving cultural structures and meaningful development lines.”, na Transilvânia, Roménia, após o que se seguiram vários trabalhos como assistente de cenografia.

Trabalha desde 2017 como artista nas áreas da cenografia para Teatro e Cinema, arte site specific, instalação e performance, tanto a solo como em projectos colaborativos, em várias instituições artísticas e culturais, das quais foi membro.

Lecciona na New Design University St. Pölten e estuda space&design Strategies na Art University em Linz, Áustria.

O seu trabalho reflecte um estudo relacionado com a especificidade do espaço e dos objectos, bem como com questões sociais, do ponto de vista da fronteira entre realidade e ficção. Nesta linha, aproxima-se frequentemente da linguagem do Teatro e das suas áreas afins.

A performance é um dos meios em que se apresenta, produzindo instalações multimédia que relacionam o corpo com o espaço e/ou com outros corpos e objectos.

O seu processo criativo desenvolve-se através do encontro, da apropriação, e da criação de objectos e elementos gráficos que converte em projectos que misturam diferentes media.

Paulo Moreira

Paulo Moreira, nascido a 25 de Março de 1971, logo na infância aprendeu com o seu pai e tio, marceneiro e mestre entalhador, a manusear a madeira. Natural de Paredes, estudou música e guitarra clássica, em escolas locais. Foi com ida para a Universidade do Minho, onde estudou Matemática e Ciências da Computação, que com a Azeituna - Tuna de Ciências da Universidade do Minho, da qual é co-fundador, conheceu os grandes violeiros de Braga, a sua arte e música, com os quais aprendeu e desenvolveu o seu interesse na construção de instrumentos. No entanto, somente em 2011 é que viria a dedicar-se à construção e luthieria, como amador, tendo construído o seu primeiro cavaquinho e seguindo-se as guitarras clássicas, os bandolins, os ukeleles, o cajón e especialmente a dulcimer de martelos.

Em 2015 compareceu ao primeiro encontro de nyckelharpa, na Biblioteca Municipal de Paredes, e aí se comprometeu a construir uma nyckelharpa. Surgiu assim a primeira Nyckelharpa construída em Portugal, inspirada nas nyckelharpas suecas, tendo usado um conjunto eclético de técnicas de construção. Desde então tem vindo a estudar, a desenvolver e a aperfeiçoar as suas técnicas para melhorar a sonoridade e tocabilidade deste instrumento sueco, tão pouco conhecido em Portugal. Em parceria com o Centro Português de Nyckelharpa, está a desenvolver e a construir nyckelharpas para crianças, para que sejam usadas na sua divulgação.

Dedica-se também ao restauro de instrumentos de cordas, tanto acústicos como elétricos, como a guitarra portuguesa e bandolins, e ao afinamento dos instrumentos de corda de orquestra como o violino, o violoncelo e o contrabaixo.

CLÁUDIA RIBEIRO | MARIA CLARA LEAL

ÀS ESCONDIDAS, DESCARREGÁVAMOS NO SILÊNCIO DA NOITE....

Esta instalação foi desenvolvida num laço estreito com a artesã dona Clara Leal (móveis de palhinha) e o Sr. Ilídio (carpinteiro de móveis).

Várias conversas levaram à composição das histórias que voam por trás deste figurino-fantasma.

As interligações entre a História e a estória da peça revelam imperfeições que relativizam os nossos ciclos de vida. A arte em estado obsoleto é revitalizada por personagens que construíram cópias de móveis antigos, recriando ou reinterpretando o conto de uma comunidade que labora do nascer ao pôr-do-sol.

O contraste entre os materiais utilizados realça a relevância imaterial desta arte já quase invisível e assume-se como espelho dos rostos que a representam. Dando-lhes visibilidade e concretude, expõe o traço dos tempos e a memória perdida.

A mistura da teia modifica a natureza da malha, construindo uma escultura performativa que conta as horas de espera na entrega, às escondidas, de móveis invisíveis com séculos de História.

As mãos de toda uma equipa participativa na construção desta peça revelam saberes e rituais que unem as memórias e os sonhos das artes tradicionais e eruditas, delineando um território com passado, presente e futuro.

1,5m x 1,5m x 1,80m feltro de lã; madeira de pinho; palha de vime; palha de centeio; fio de lã.

Peça composta por uma cadeira antiga, um saiote em trança de palha de Fafe, um vestido em retalhos de feltro de lã e um vestido em molduras com malha de palha de vime, com bordado (rabos de porco) a lã.

Equipa:

• Dona Clara

• Sr Ilídio

• Cláudia

Formandos da oficina criativa da palha do CLDS Fafe - Sol do Ave:

• Ana Ribeiro

• Hélder Dias

• Ludovina Duarte

• Luísa Correia

• Cândida Freitas

• Carmo Cardoso

• Conceição Martins

• Olinda Gonçalves

Cláudia Ribeiro

Nasceu em Mirandela, Trás-os-Montes, em 1972.

Estudou Artes na Escola Artística Soares dos Reis, Cenografia e Figurinos na Academia Contemporânea do Espectáculo e Figurinos e Adereços na Wimbledon School of Art. Durante 12 anos foi coordenadora do guarda-roupa do Teatro Nacional S. João, no Porto, onde desenvolveu o conhecimento em diversas técnicas de execução de figurinos, desde a modelação à confecção das mais diversas peças de guarda-roupa, numa procura constante de novos materiais e formas de construção de peças que em palco se tornam vivas e enriquecem personagens.

De 1996 a 2021 lecionou várias disciplinas na ESMAE, na área da cenografia e adereços, e atualmente leciona a disciplina projeto e tecnologia em têxteis na Escola Artística Soares dos Reis.

Como freelancer, desenvolve um trabalho como criativa e coordenadora técnica em diversas estruturas culturais locais e nacionais. Dos mais diversos autores às mais diversas artes performativas, sempre na área de figurinos e adereços, trabalhou com muitas personalidades da área do teatro, música, ópera, ballet, televisão e cinema, tais como João Paulo Costa, Luís Blat, João Grosso, Jorge Pinto, Hélder Costa, António Durães, Joaquim Nicolau, Rui Sérgio Barroca Mateus, Xico Alves, Norma Silvestre, João Paulo Seara Cardoso, Isabel Barros, Paulo Castro, José Carlos Garcia, Rui Melo, Henrique Oliveira, Ricardo Simões, Graeme Pulleyn, Rui Ramos, Magna Ferreira, João Mota, Zé Rui Martins, entre outros.

Maria Clara Leal

Começou a trabalhar nesta arte para ajudar o marido, que era cadeireiro, por volta de 1987.

Por esta altura, o marido deixou de contar com a ajuda de umas senhoras que empalhavam as cadeiras que ele fazia e, desta forma, a D. Maria Clara foi dois dias para casa dessas senhoras para aprender a arte.

A partir dessa data nunca mais deixou de empalhar cadeiras, cabeceiras de cama, cadeirões e todo o tipo de trabalho em palhinha.

Trabalhou para alguns cadeireiros de Lordelo e para lojas de decoração e antiquários fazendo restauros. Ainda faz, actualmente, alguns trabalhos que lhe são pedidos.

A sua arte consiste em tecer sobre uma superfície a palhinha, que deve ser previamente demolhada para que fique bem esticada enquanto é trabalhada e bem firme ao secar.

ARLINDO MOURA | JOSÉ AUGUSTO MACHADO

Arlindo Moura

Nasceu no Porto em 1987. É a sexta geração de uma das mais importantes famílias de ourives do concelho de Gondomar, os “Mouras”.

Concluiu o curso de Ourivesaria / Filigranas no CINDOR em 2007, e o Curso Técnico de Design (vertente industrial de ourivesaria) na Escola Profissional de Gondomar em 2009. Em 2013 terminou com distinção o curso superior de Design de Joalharia na ESAD de Matosinhos. Frequentou também a EASD de Valencia, Espanha, e a Escola Massana (Barcelona).

Trabalha desde então na empresa Só Ouro, onde vem desenvolvendo várias colecções de Autor, bem como inúmeras parcerias com artistas e empresas no panorama nacional e internacional, das quais destaca a colaboração na produção do maior coração de Filigrana do Mundo e, mais recentemente, a produção do “Vestido em Filigrana”.

É Formador na CINDOR.

Fervoroso defensor e impulsionador da técnica ancestral da Filigrana, tem feito regularmente demonstrações por todo o mundo, nomeadamente na Feira da Lusofonia em Macau 2018; no parlamento Europeu em 2019; no Pavilhão de Portugal na Feira Mundial do Dubai 2020; no Festival Hors Saison 2022 (Consulado Português em Bordéus, França).

Principais distinções:

• 2007 “Cer.Ta.Me” (ARGO), Gondomar – Prémio Incentivo

• 2008 Festa da Juventude de S. P. Cova - 1º classificado

• 2009 Autor do Monumento ao Ourives de Gondomar

• 2010 “CINDOR - 25 anos” - Menção Honrosa

• 2011 “Ourindústria 2011” - Melhor Vitrine

• 2012 Amostra Nacional de Jovens criadores 2012 - Prémio Criatividade

• 2013 “CER.TA.ME ARGO” - Prémio Criatividade em Metais

• 2017 “Ourindustria 2017” - Prémio Criatividade

arlindomourajewellery@so-ouro.com

https://so-ouro.com/

José Augusto Machado

Aos 11 anos saiu da escola e foi aprender a arte de entalhador, a sua verdadeira paixão, na empresa Gonzaga Barros. Teve como mestre um senhor que trabalhava na empresa e que era conhecido por Paredes.

Posteriormente estabeleceu-se por sua conta e continuou a trabalhar como entalhador, até que por volta de 1989 esta arte começou a entrar em decadência, obrigando-o a procurar alternativas.

É nessa altura, para não deixar de trabalhar na madeira, que começa a olhar para a maquetaria / marchetaria como um novo caminho para si. Aos poucos foi descobrindo esta arte, aperfeiçoando e inovando. Como o próprio refere é “preciso ter algum jeito para desenhar”. Depois, com paciência, é preencher o desenho com as diferentes folhas de madeira, dando-lhe vida.

Hoje trabalha com grandes empresas locais, arquitetos, engenheiros e decoradores.

ADRIANA PACHECO | MARIA RITA MOREIRA DA SILVA (RITA DO SERRADOR)

Cartografias: A Serra Hidráulica de Rebordosa

Uma maquete representa a Casa do Rio: o lugar onde D. Rita, neta e filha de serradores, vivenciou a utilização da força das águas do Rio Ferreira enquanto força motriz da serração.

Nos nossos encontros retratou todo o processo que recordava, desde o derrube dos troncos de madeira até ao levantamento da tapadeira que regulava o fluxo da água. Contou ainda as histórias da sua infância naquela casa onde nasceu e deixou mais velha, quando a serração passou a ser num outro lugar, longe do rio.

A D. Rita, com os seus 92 anos, representa a geração que viveu no período pré-industrial e que conheceu os engenhos hidráulicos, à data, como principais ferramentas para a transformação da matéria prima da região. A irregularidade das cheias no rio, que volta e meia causavam danos à edificação, e o surgimento de novos processos mecânicos de serração, provocaram o abandono deste engenho hidráulico. Hoje restam as marcas nas pedras, os pegões do barracão de madeira com janela sobre o rio, como lhe chama a D. Rita. É-lhe difícil contar e detalhar todas as partes que formam o engenho: a levada, a caleira, a serra, o sistema de motor com roda hidráulica, a lâmina e a plataforma onde se colocava o tronco a serrar.

O nosso contributo passa por cartografar, em conjunto com a maquete, as partes mais importantes desta serração accionada por energia hidráulica. As cartografias são o resultado do conhecimento empírico de quem viveu o lugar e da minha curiosidade acerca da sustentabilidade de um ofício, das suas histórias e saberes, e pretendem, sobretudo, demostrar a possibilidade de uma geração reconhecer, na vivência dos seus antepassados, a construção de lugares com identidade.

Adriana Pacheco

Nasceu a 05 de Outubro de 1992.

Arquitecta de formação, transforma ambientes sonhados em espaços físicos e tornou-se empresária por vocação.

Nasceu em Paredes e vive em Rebordosa, terra das suas raízes, onde surgiu o desejo de descobrir mais sobre as artes e ofícios em madeira. Aos 14 anos foi estudar para a Escola Artística Soares dos Reis, tendo escolhido como especialidade o trabalho sobre madeira e metal. Foi lá que descobriu a beleza da relação entre a teoria, o ratiocinatio, e a prática, a fabrica, transportando-a como um princípio para o seu caminho de vida. Na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto procurou o significado de construir o espaço e o que significa habitar o espaço. Aos 29 anos, em colaboração, explora a vertente humana da arquitectura.

Rita Silva (Rita do Serrador)

Nasceu a 27 de Julho de 1930.

D. Rita aprendeu a ler e a escrever por força de vontade e gosta de desenhar. Nasceu em Rebordosa, na Casa do Rio, onde passou a infância. Na Casa do Rio trabalhavam os seus avós e pais, serradores. D. Rita viveu o lugar junto ao Rio Ferreira por cerca de 12 anos, recorda-se de se sentar nos toros de madeira, do pai a fazer movimentar o engenho da serração, dos moinhos de farinha, das levadas, da boa fruta das árvores, e de ir lavar a roupa ao rio. Recorda cada compartimento da casa onde nasceu, e das casas que ajudou a construir. Conta que Rio era um lugar movimentado, frequentado por muitos jovens e lamenta que hoje as águas não sejam tão limpas como antigamente. Aos 92 anos, após uma longa vida de trabalho, procura bem viver cada dia.